domingo, 8 de maio de 2067

Galapito

Mote

Num ponto do infinito
há um planeta azulado;
enquanto gira de lado
visto de longe é bonito…
Diz-se aqui no Galapito
que há lá um certo animal
que se faz um maioral
e pensa que sabe tudo,
como um grande cabeçudo
de aspecto Universal.

Glosas
I
Diz o povo aqui da Corte,
do lugar aonde estou,
que o ponto p`ra onde vou
é sítio de gente forte…
Vou entrar no Pólo Norte
para ver se ali medito…
Um prazer que necessito
P`ra gelar o meu sentido,
e passar despercebido
num ponto do infinito…

II
É ali no pedregulho
que aqui comparto e vejo…
Onde está um Alentejo
que descansa sem barulho…
Há quem diga que é orgulho
e quem diga que é um fado,
que se leva descansado
nas guerrilhas desse mundo…
E vejo que lá ao fundo
há um planeta azulado…

III
Confesso, estou curioso
p`ra chegar ali depressa,
onde dizem que a cabeça
tem um dom meticuloso…
Viajando o céu viçoso,
avanço no céu estrelado,
onde tudo é encantado
e onde tudo bate certo,
no azul que fica perto
enquanto gira de lado…

IV
Quero ver a cor das serras,
nessas grandes altitudes,
e passar desertos rudes
que apagam outras terras…
Também quero ver as guerras,
para ver se eu acredito
no que a Corte me tem dito
e não quero acreditar…
Mas olhando esse lugar,
visto de longe é bonito…

V
Com a nave desengatada,
vejo algumas claridades,
talvez sejam as cidades
da parte mais abastada…
Noto a porção anilada,
durante o soar de um grito,
que soa como um apito
e zune como um consolo.
- Vamos ver esse bajolo!
Diz-se aqui no Galapito…

VI
A nave sorri, em festa,
pelo azul dos oceanos,
que exibem aos humanos
a frescura que lhes resta…
Dizem que à hora da sesta
esse anil é divinal,
no austro de Portugal,
onde está uma cicatriz…
Toda a nave aponta e diz
que há lá um certo animal…

VII
O Galapito avança mais,
para ver mais à vontade,
e reparo outra verdade
destapada por sinais:
são fumaças colossais
vindas lá do corpo astral…
Penso que algo está mal
nesses tons que não se somem,
e que ficam mal ao Homem
que se faz um maioral…

VIII
Vejo a Lua olhar p´ra mim
como uma Deusa do céu,
que sorri de corpo ao léu,
e a benesse não tem fim…
É ditosa em ser assim,
com um ar sempre amorudo…
Enquanto me quedo mudo,
penso nessa criatura,
que é pomposa na figura
e pensa que sabe tudo…

IX
Lá em baixo oiço trovões,
ou estouros das disputas,
que são o maná das lutas
e o pesar dos corações…
Entre as muitas criações
de cariz grave e agudo,
avisto o animal taludo,
entretido nessa esgrima…
Que diviso aqui de cima
como um grande cabeçudo…

X
Esvaiu-se o meu ensejo
e a querença que trazia,
esse Homem dá-me azia,
alojada no meu pejo…
Já nem vou ao sul do Tejo
ver o ente especial…
Desejando-lhe, por sinal,
sorte para todo o ano,
por ser um alentejano
de aspecto universal…

(2007)

António Prates - In Sesta Grande