domingo, 8 de maio de 2067

Confissão

Por capricho ou por mania,
quando cedo me levanto,
rimo a luz do novo dia,
por padecer e rimar tanto...

I
Nasce o sol com a aurora,
consolando a minha mente,
a cada dia, um tom diferente,
no meu sol que vai embora...
Enquanto brilha, dia afora,
sou imagos de poesia,
que me chama e me desvia
para as sombras do cansaço.
nestas rimas que eu faço,
por capricho ou por mania...

II
Meço as horas por segundos,
absorto no meu intento,
elaborando cada momento,
pelos minutos mais imundos...
Abraço sonhos moribundos,
sem esperança, sem encanto,
e na voz deste meu pranto,
sou prisão do meu degredo,
que principia sempre cedo,
quando cedo me levanto...

III
Confesso a dor, o desalento,
nas palavras do meu estado,
como eterno aprisionado
do meu estado pestilento...
Nada em mim me dá alento,
no torpor que me enfastia;
sou sombra desta apatia,
acabrunhada, impotente,
e por força do consciente,
rimo a luz do novo dia...

IV
Invento tardes infinitas,
no meu ego complacente...
como o sonho incandescente,
que se esvai ante desditas...
Ignoro as coisas bonitas,
retirado neste recanto,
e com língua de esperanto,
vou seguindo a minha noite,
que se faz eterno açoite,
por padecer e rimar tanto...

(2000)

António Prates
In Sesta Grande)