Toda a flor que é linda e bela
tem na alma mais perfume,
e todos olham para ela
com desejo e com ciúme…
I
Como um terno amanhecer,
nasce, brota e vem ao mundo;
tem no brio algo profundo
que a faz resplandecer…
Entre o bem e o mal querer,
vinga aqui nesta courela,
como um quadro de aguarela,
conduzindo a sua sina…
É mais doce e mais divina
toda a flor que é linda e bela...
II
Suas cores um matizado,
que a faz montra de beleza:
um tal lustre a camponesa,
no padrão mais destacado…
Entre as muitas a seu lado,
é primor que está no cume,
Como gelo em brando lume,
que derrete, e diz presente…
Toda a flor resplandecente
tem na alma mais perfume…
III
Se é cercada por enleios,
ganha mimos e abraços…
Tudo é lindo e cria laços
com outros que são mais feios…
O vasto encanto em devaneios,
dá-lhe o brilho de uma estrela;
Como eterna sentinela,
tão castiça e tão briosa,
com a luz mais luminosa,
e todos olham para ela…
IV
Veste o pão da divindade,
na estufa da vivência,
que a sua fina aparência
transmite com claridade…
Há quem diga que é vaidade,
e ao primor chame negrume;
com sementes em cardume,
cresce livre e engalanada,
sendo a flor mais cortejada,
com desejo e com ciúme…
(2005)
António Prates - In Sesta Grande