domingo, 8 de maio de 2067

Mulher

A mulher é como a fruta,
quando é verde tem frescura,
amadurece enquanto escuta,
e é doce quando é madura...

I
Surgem pontos de atracção
no desejo descarado,
o preconceito é podado
no primor da avaliação;
a instintiva cativação
na vitamina mais astuta,
o apetite que dá luta,
o caminho a escalar...
- está sujeito a reparar:
a mulher é como a fruta...

II
As laranjas reluzentes,
nas canastras e cabazes;
arredondados ananases
ficam belos e salientes,
- os sumarentos pendentes,
descascados na doçura;
o conservante da alvura
é perdido e dispensado,
e tal gomo apaladado
quando é verde tem frescura...

III
Como o néctar do kiwi,
olhares desconcertantes,
conjugam os corantes
no primor que há em si;
a essência que sorri,
que imagina, que matuta;
a certeza diminuta
que invade a melancia,
semeada à revelia
amadurece enquanto escuta...

IV
O destino não se altera
e o tempo não desvia,
Já não é tão sadia
Para ser mais sincera;
a ternura que prospera,
o brio que transfigura:
consistência que assegura
que a experiência é um posto,
é timbrada pelo gosto,
e é doce quando é madura...

(1998)

António Prates - In Sesta grande