domingo, 8 de maio de 2067

Intervalo

Fiz um intervalo, atrás do sol-posto,
duas, quatro, cinco, dez léguas, ou mais,
pra contar as rugas que tenho no rosto,
e medir as causas desses meus sinais…
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Calculei o tempo em cada refego,
dividi o tempo que passei sozinho,
subtraindo as penas q`inda aqui carrego,
por causa dos danos desse meu caminho…
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Vendo barbas brancas, vi um ar mais velho,
vi nesse momento mais mil respostas,
e num alto grito escavaquei o espelho,
e aventei as rugas para trás das costas…
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Sei que minhas costas têm muitas cargas,
sei que nos meus ombros tenho um grande peso,
mas nestes meus ombros destas costas largas,
também acumulo tudo o que desprezo…
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A vida é composta destes intervalos,
destes retrospectos sempre benfazejos,
que nos dão imagens, que nos contam calos,
com aquele gosto que nos dão mil beijos…
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António Prates